Reportagem do Jornal do Brasil do dia 24 de agosto de 2008
CADERNO ECONOMIA
Tecnologia já dá certo na escola
Colégios mudaram para melhor o sistema de ensino ao instalar computadores nas salas de aula
THE NEW YORK TIMES
A. J. Mast/The New York Times
Steve Lohr
"Pode me chamar de otimista tecnológico, mas sempre achei que as pessoas a favor de pôr computadores nas salas de aula como uma forma de transformar a educação eram bem intencionadas, mas fora de foco. Isso não é o problema nem a resposta. Quando um novo ano escolar começar, pode chegar a hora de reconsiderar o papel da tecnologia para transformar a educação. Há exemplos promissores, tanto nos Estados Unidos quanto no exterior, com características semelhantes. A proporção é um computador por aluno. A tecnologia não está restrita a um laboratório de informática. O computador é uma ferramenta integral em todas as disciplinas. O software educativo com base na web foi aperfeiçoado nos últimos anos, para que alunos, professores e famílias pudessem estar ligados por meio de redes. Até recentemente, o computador na sala de aula era usado pelos alunos para pesquisar na internet, enviar e-mails, digitar textos, usar programas de apresentação de slides e planilhas eletrônicas. São coisas úteis, mas não algo que altere a maneira como a escola funcione. As novas redes de educação na web podem abrir caminho para mudanças maiores. Os pais se tornaram mais engajados porque podem monitorar a freqüência, pontualidade, trabalho de casa e desempenho dos filhos, além de conseguir dicas para ajudá-los em casa. Os professores podem compartilhar os métodos, planejamentos de aulas e materiais on-line. Na sala de aula, a aprendizagem passará a acontecer com base num projeto, verdadeira ruptura com o modelo de educação tradicional com livros didático e aulas expositivas.
Numa aula de ensino médio, um projeto pode começar com uma carta hipotética da Casa Branca que diz que os preços do petróleo estão subindo, a economia está em recessão e os números das pesquisas do presidente estão caindo. A tarefa seria planejar uma nova política energética em duas semanas. O espaço da web compartilhado para o projeto, por exemplo, incluiria a carta da Casa Branca, as fontes que os alunos consultaram, o cronograma e o planejamento do trabalho, tarefas para cada aluno, critério de avaliação e eventualmente o trabalho escrito que os alunos entregam. Apresentações orais seriam exigidas.
A abordagem baseada em um projeto, dizem alguns educadores, torna a aprendizagem dinâmica e melhora o desempenho na aula e nas provas padronizadas. O ponto principal é que enquanto a tecnologia da informática é aperfeiçoada e se torna acessível, o avanço mais significativo é compreender mais profundamente como usar a tecnologia. A menos que você mude o jeito de ensinar e os alunos mudem a forma de trabalhar, a nova tecnologia não vai fazer tanta diferença conta Bob Pearlman, ex-professor e atual diretor de planejamento estratégico da Fundação de Novas Tecnologias, organização sem fins lucrativos. A fundação, com sede em Napa, Califórnia, desenvolveu um modelo de ensino com base em um projeto e está na dianteira da tendência a uma reforma da educação que contemple a tecnologia. Quarenta e duas escolas em nove Estados dos EUA estão experimentando o modelo da fundação, e os números crescem rapidamente.
Desafios :
Por trás dos esforços, há preocupações com o fato de as escolas públicas não estarem preparando os alunos para os desafios da globalização e as mudanças tecnológicas. Preocupações com a futura competitividade do país levaram à criação, em 2002, da Parceria para Habilidades do Século 21, uma coalizão cujos membros incluem o Departamento de Educação e empresas de tecnologia como Apple, Cisco Systems, Dell e Microsoft. A parceria entre governo e indústria identifica uma série de habilidades semelhantes às da Fundação de Novas Tecnologias. Entre elas estão colaboração, planejamento de sistema, auto-direção e comunicação, tanto on-line quanto pessoal. Oficiais do Estado de Indiana observaram o modelo da fundação e custearam a viagem de professores e administradores locais para visitar escolas na Califórnia. Sally Nichols, professora de inglês, ficou impressionada e adotou o novo programa de ensino na escola em que trabalha, Decatur Central High School, em Indianápolis. No ano passado, Nichols e outro professor deram aula de literatura e biologia para calouros. Tipicamente, metade dos calouros é reprovada em biologia, mas com o novo modelo a taxa de reprovação caiu pela metade. Os alunos ficam mais independentes durante o trabalho em vez de os professores darem aulas expositivas e serem os donos do conhecimento. As aulas são muito mais dinâmicas. Eles não dormem durante a aula explica Nichols. O custo extra para escolas que adotaram o novo modelo é de cerca de US$ 1 mil por aluno por ano, calcula Pearlman da fundação. Para os alunos, um portal com base na web é a porta de entrada virtual para tarefas, atividades sociais, tutoria on-line, grupos de discussão e e-mail. Até mesmo os alunos suspensos da escola por alguns dias imploram para não perder o acesso ao portal, segundo Mark Grundy, 49, diretor executivo das faculdades de Shireland e George Salter. Hoje, as escolas estão entre as maiores do país em melhorias anuais no desempenho de alunos na leitura e provas de matemática".
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